O ÚLTIMO DIA DE MINHA VIDA
Se hoje fosse meu último dia, eu escolheria viver com a intensidade de quem finalmente acordou para o que realmente importa.
Caminharia descalço na areia molhada, sentindo o arrepio do vento e ouvindo o som do mar como uma canção que sempre esteve ali, mas que só agora faz sentido.
Tomaria um café da manhã ao lado de quem amo, trocando olhares, risos e abraços — e descobriria, talvez tarde, que o calor humano é mais curativo que qualquer remédio.
Leria um livro com cheiro de papel, folheando suas páginas como quem percorre um caminho sagrado, onde cada frase toca a alma,não pela velocidade da informação, mas pela profundidade do sentir.
Choraria e riria sem vergonha, sem controle, apenas para entender como a alma grita através do corpo, como as emoções moldam a existência.
Dançaria, não para agradar ou impressionar, mas para me libertar. Dançaria como quem se despe das expectativas do mundo, apenas para saber o que é ser plenamente eu, ainda que por instantes.
Ouviria alguém desconhecido, com empatia e silêncio, porque às vezes, tudo o que o outro precisa é de presença — não de respostas.
E ao final, veria o pôr do sol, de mãos dadas com alguém, sem dizer nada. Porque há momentos em que o silêncio fala com mais verdade do que mil palavras.
Mas por que será que deixamos o essencial para depois?
Talvez porque o ser humano só perceba o valor das coisas quando sente a ausência delas.
A vida, esse presente que recebemos todos os dias, é tão disponível, tão constante, que se torna invisível aos olhos ocupados.
Os encontros, os afetos, os sentidos, a natureza, o tempo… tudo está aqui, mas a alma, embriagada pela rotina e ensurdecida pelo ego, muitas vezes silencia.
Ficamos tão ocupados com o que falta, que esquecemos de nos encantar com o que já temos.
Só quando perdemos a chance de ver o pôr do sol é que percebemos a beleza que havia ali.
Só quando os braços se afastam é que sentimos o vazio que um abraço preenche.
O valor incalculável da vida está nas coisas simples — e, por isso mesmo, grandiosas.
Presença.
Consciência.
Gratidão.
Três tesouros que o mundo moderno, distraído, parece ter desaprendido.
Mas nunca é tarde para lembrar.
Antes que o último dia chegue, que possamos enfim ver, com a alma desperta, tudo aquilo que sempre esteve ao nosso alcance.